UM POUQUINHO DE TEMPERO "Amor é fogo que arde sem se ver", dizia o Poeta. E disse meia verdade. Amor nem sempre é "fogo que arde". Muitas vezes – talvez a maioria – é brasa adormecida debaixo das cinzas. É preciso um sopro de brisa, uma aragem qualquer, de vez em quando, para reavivá-lo. É assim o amor conjugal. Construído com pequenas lutas cotidianas. Feito de minúsculas diplomacias, de renúncias não publicadas. Mas também de pequenas delicadezas, de minúsculos gestos de afeto, de ternuras não publicadas. A estrutura do amor são as grandes virtudes da fidelidade da dedicação, do perdão, da renúncia. Mas isso não basta. O que nutre o corpo e renova as células são as proteínas, são as vitaminas, os sais minerais, que o alimento fornece. Mas é a pitada de sal, a dose certa de pimenta, o ácido do vinagre que faz o alimento agradável, saboroso. São as paredes, o alicerce, o telhado que fazem a casa ser casa. Mas é a pintura, o toque da cortina, o arranjo de flores que a torna alegre e acolhedora. O amor também requer tempero. Aquele toque, aquele sopro vivificador. Querem saber de um? É o elogio. A difícil arte do elogio. Já perceberam como é difícil elogiar? Tanto quanto é fácil censurar. Estranha psicologia humana. Parece que reconhecer o valor do outro diminui o nosso, quando é exatamente o contrário. O marido elogiar a mulher. A mulher elogiar o marido. Isso demonstra que estamos atentos às qualidades do outro. Que procuramos descobri-las em cada gesto. Buscar sempre enxergar as qualidades do companheiro, eis o segredo da boa convivência. À mulher não basta que o marido devore regaladamente a pizza, até o último naco. Ela espera dele um "puxa, que pizzão! ... " E a psicologia masculina ficará extremamente lisonjeada se a esposa observar: "Meu bem ... o pano que você comprou é o vestido dos meus sonhos!" Elogie o penteado dela. Pode não agradar a você. Mas ela está achando o máximo. Elogie a promoção dele. Pode não ser lá essas coisas, financeiramente. Mas custou esforço e dedicação. Elogie as paredes limpas, em vez de enxergar o estrago da pintura. Elogie o armazém que ele fez, em vez de reclamar o sabão que faltou. Ela se enfeitou para esperar a sua chegada. Elogie. Daí por diante ela se enfeitará todo o dia. Hoje, finalmente, ele botou os sapatos no lugar. Elogie. Amanhã ele vai repetir a dose. Elogiar é arte. Custa esforço, treinamento, coração atento. Vale a pena. Está provado pedagogicamente. É a gota de mel, que vale mais que um barril de fel. Como está a nossa vida conjugal? Cinzenta? Insossa? Bife sem sem-sal? Parede descascada? Vamos dar uma mão de pintura! Que tal um pouquinho de tempero?! ... José Wagner Leão
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